sexta-feira, 1 de maio de 2015

Lenda coisa do demo


                                                               Coisa do demo

Coisas do demo

Dizem que o diabo é preto, tem rabo, chifres, unhas compridas e pés de cabra: fede a bode e também a enxofre. Usa uma barbicha em ponta, quando em figura de gente e traz um chocalho ao pescoço. Afinal "o diabo não é tão feio como se pinta", pois para poder tentar os mortais toma todas as formas, mas também "não faz graças para ninguém rir". É conhecido por inúmeros apelidos: belzebu, bode, capeta, cão, canhoto, coisa-ruim, diacho, dianho, demo, demônio, espírito-mau, inimigo, lucifer, pé de pato, Pedro-Botelho, porqueira, quimbinga, satã, satanás, tinhoso, etc. etc. Cotam que ele pedira ao Padre-Eterno uma capa para esconder as suas deformidades, mas Deus-nosso-senhor presenteou-lhe apenas com uma muito velha e muito curta, pois quando pretende esconder os chavelhos aparece-lhe a cauda: quando tapa esta aparece-lhe aqueles. Afirmam outros sabidos que ele possui sete capas, que "tanto encapam como desencapam". É raro ele andar só: anda acompanhado de um séquito de diabinhos e diabretes cada qual mais ladino e levado da carépa; mas vive sempre sob a vigilância constante de uma legião de arcanjos de espadas flamejantes. Só agora goza de uma folgazinha no dia de São Bartolomeu (24 de agosto) "quando anda às soltas", armando grande temporal. Reside nas "profundas dos infernos" alimentando terríveis caldeirões de alcatrão a ferver. Costuma a aparecer à meia-noite na encruzilhada dos caminhos para pregar peças aos transeuntes, e também gosta de assustar as moças. É fama que tanto procurou ajeitar o nariz de sua própria mãe (Joana Padeira) que o pôs torto; e, por fim matou-a com um tiro partido de um cano de bota ou, segundo outros, com a tranca da porta. Afirmam que costuma ele carregar o corpo dos defuntos para seus domínios, deixando o caixão cheio de pedras. Não se deve falar sozinho nem beber água no escuro porque o faz com o diabo. É preciso que se note que "a gente trabalha para Deus e para o diabo"; que "vintém mal ganhado o diabo o leva" e que "na pataca do sovina (320 réis) o diabo tem três tostões (300 réis)". Não se deve "ter partes" com ele e fugir dele "como o diabo da cruz": nem "acender uma vela a Deus e outra a ele, pois o provável que ele lhe ronque nas tripas". É aconselhável "não dar esmola ao diabo nem fazer-lhe promessas", nem "comer o pão que ele amassou". "Quem anda em demanda com o diabo anda". Há pessoas afoitas que chegam a "vender a alma ao diabo"; e outras. para encontrarem coisas perdidas ou alcançarem a realizacão de um desejo costumam amarrar o rabo do diabo, dando um nó num barbante. Não nos devemos benzer à primeira badalada do sino, pois esta, diz o povo, é a do diabo.

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